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você entende exatamente o que eu falo?

  • Foto do escritor: Laís Comini
    Laís Comini
  • 17 de dez. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 3 de abr.



Eu não sei dizer

Nada por dizer

Então eu escuto

Se você disser

Tudo o que quiser

Então eu escuto

Fala...

Se eu não entender

Não vou responder

Então eu escuto

Eu só vou falar

Na hora de falar

Então eu escuto

Fala...

(Fala -Secos e Molhados)





A comunicação humana é um processo falho e profundamente influenciado pelas dinâmicas inconscientes que subjazem às interações verbais. À luz da psicanálise, essas falhas comunicativas não são meramente ocasionais, mas revelam os movimentos sutis do inconsciente.

Sigmund Freud e Jacques Lacan, pilares da teoria psicanalítica, fornecem quadros teóricos essenciais para compreender como e por que a comunicação frequentemente se torna mal entendida. Freud, ao introduzir o conceito de inconsciente, e Lacan, ao enfatizar a estrutura linguística do inconsciente, elucidam as tensões e rupturas que perpassam a expressão verbal humana.

Essas perspectivas nos convidam a reconhecer que os discursos são atravessados por desejos, conflitos e significantes que escapam à plena consciência, resultando em mal-entendidos comunicativos.


Freud e o Inconsciente

Sigmund Freud introduziu o conceito de inconsciente como uma estrutura psíquica que abriga desejos, memórias e impulsos reprimidos. Ele postulou que a comunicação humana é amplamente afetada por esses processos inconscientes. Atos falhos, lapsos de linguagem e sonhos são fenômenos do inconsciente que evidenciam a influência dos desejos recalcados sobre a maneira como nos expressamos. Para Freud, a comunicação não é transparente, mas frequentemente atravessada por conteúdos inconscientes que distorcem a mensagem intencional, revelando a profundidade dos conflitos internos.


Estrutura da Linguagem em Lacan

Jacques Lacan aprofundou a teoria freudiana, propondo que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Para Lacan, a comunicação é sempre mediada por significantes, que são as unidades básicas de significado na linguagem. No entanto, esses significantes não têm um vínculo fixo com os significados, o que cria uma multiplicidade de interpretações possíveis.

A linguagem, portanto, é limitada por sua própria estrutura. As palavras nunca capturam totalmente a experiência subjetiva ou os desejos profundos do sujeito. Há sempre um excesso ou um déficit no que é comunicado, uma vez que os significantes podem desviar ou condensar múltiplos significados. Lacan chamava isso de "falta-a-ser" ou "manque-à-être", indicando que sempre falta algo na tentativa de expressar plenamente o ser.


Desejo e Comunicação

O desejo é outro fator que complica a comunicação. Na psicanálise, o desejo é incessante e nunca totalmente satisfeito. É estruturado em torno da falta, e essa falta se reflete na linguagem. O que tentamos comunicar é sempre uma tentativa de preencher uma lacuna, de alcançar algo que está além do alcance das palavras. A linguagem é uma "ferramenta poderosa", mas também limitada, incapaz de abranger todas as nuances do desejo e da subjetividade.


Portanto, na perspectiva psicanalítica, a comunicação humana é inevitavelmente marcada pela impossibilidade de dizer tudo o que queremos e como queremos. Assim como nos marca a impossibilidade de compreender a fala do outro em sua totalidade. Isso se deve à repressão, à estrutura da linguagem, à divisão dos registros psíquicos e à natureza do desejo. Ao reconhecer essas limitações, podemos nos reposicionar em nossas relações, compreendendo melhor as frustrações e os mal-entendidos na comunicação com os outros. Assim, podemos buscar formas mais profundas e autênticas de conexão, mesmo dentro dos limites impostos pela linguagem.


 
 
 

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