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Psicanálise cura?

  • Foto do escritor: Laís Comini
    Laís Comini
  • 17 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

E se cura, cura o quê?



O método psicanalítico, desenvolvido por Sigmund Freud no final do século 19, transformou a maneira como a medicina era praticada na época. Naquele período, os tratamentos médicos baseavam-se essencialmente em dois paradigmas: a causalidade natural e a causalidade psíquica.

A causalidade natural se referia a causas físicas e mecânicas, detectáveis no corpo. Quando uma doença era diagnosticada, os sintomas precisavam ter uma correspondência concreta no organismo, uma manifestação com respaldo corporal.

Por outro lado, a causalidade psíquica envolvia atos conscientes e voluntários. O ato de sentar-se, por exemplo, resulta de uma decisão consciente, uma representação mental que leva à ação. Esse tipo de causalidade refere-se à relação entre vontade e efeito.

Os médicos da época de Freud, avaliavam as experiências e sintomas com base nesses dois paradigmas: a partir de ações conscientes e voluntárias, e de processos mecânicos e naturais. Dessa forma, o conceito de cura predominante na ciência estava centrado na eliminação dos sintomas.


Freud, neurologista, buscava compreender os sofrimentos de suas pacientes histéricas, que apresentavam sintomas sem causas orgânicas e que também não resultavam de ações conscientes. Esses sintomas, denominados por Freud como 'sintomas histéricos', incluíam paralisias corporais, fobias e esquecimentos da língua materna. Diante desse quadro, Freud começou a utilizar a hipnose como uma forma de tentar descobrir a origem desses sintomas, que ele acreditava estarem relacionados a traumas anteriores. A ideia era que, durante as sessões de regressão hipnótica, a causa do trauma fosse revelada ao paciente, dissolvendo assim o sintoma e promovendo a cura.


No entanto, Freud acabou por abandonar a hipnose como método terapêutico, por considerá-la ineficaz. Foi a partir de uma sugestão de uma de suas pacientes, Emmy Von N., que Freud passou a desenvolver o que ficou conhecido como a "cura pela palavra". Emmy sugeriu que ele parasse de interrompê-la com perguntas e a permitisse falar livremente sobre suas questões. Esse gesto marcou o início de um novo tratamento, baseado na "associação livre", em que o paciente é encorajado a falar sem restrições, até que assim possam fazer emergir a cena traumática.


Com o método da associação livre, Freud começou a formular a ideia de que o sintoma teria uma gênese repetitiva, ligada a uma cena infantil. A cura, segundo ele, estaria na recordação dessa cena infantil. No entanto, Freud ressaltava que não bastava apenas lembrar do trauma; era necessário recordá-lo e elaborá-lo para que não fossem repetidos em ato. Nessa perspectiva, o processo analítico se sustenta na dinâmica de relembrar e elaborar, possibilitando a mudança de posição do sujeito em relação ao seu próprio sintoma. Freud vai nomear essa abordagem de "tratamento analítico".


Embora a palavra "cura" seja pouco utilizada na psicanálise, podemos perceber que algumas definições desse termo se aproximam com a proposta analítica. Se considerarmos a cura como tratamento, como cuidado, ou mesmo como "curare", no sentido apresentado por Hipócrates, o pai da medicina, é possível relacioná-la à psicanálise. Isso ocorre ao considerarmos o tratamento analítico como processo de elaboração dos sintomas e possibilidade de passagem de um mal-estar à um mínimo de prazer.





Eemmy Von N


 
 
 

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